Género: Survival
Horror
Produtora: Capcom
Editora: Virgin Interactive
Depois de termos assistido a um boom relacionado
com zombies no meio do entretenimento vamos então analisar um
jogo que de forma indirecta contribuiu para o mesmo apesar deste ter chegado à
quase 18 anos. Sinceramente nunca percebi o porquê de tanta euforia envolta
de zombies. São lentos, burros, desfazem-se aos bocados, e apesar
de nunca ter estado perto de um suspeito que o cheiro que emanam não seja do
tipo que faz crescer água na boca.
Mas adiante, os designados zombies (os
mortos-vivos) surgiram muito antes de Resident Evil, mais
precisamente no mundo do cinema por volta dos anos 70/80 (ou
pelo menos foi nessa altura que trouxeram algum sucesso), e vinham sempre como
seres que eram trazidos à “vida” depois de mortos e enterrados. Resident
Evil decidiu modernizar esse processo, tornando-o mais actual.
Os zombies “nascem” através do desenvolvimento de um virús
criado em laboratório (chamado Umbrella). Algo corre mal (algo tem
sempre de correr mal) e
o vírus alastras-se afectando vários cientistas que vão
ficando zombies com sede de sangue contaminando todo o
laboratório obrigando a uma intervenção de uma equipa especial da polícia local
(da cidade de Racoon City), os S.T.A.R.S (Special
Tactics And Rescue Service), onde se encontram as duas personagens
jogáveis, Jill Valentine e Chris Redfield.
Esta lenga-lenga toda que vos tive a dar serve apenas para vos elucidar quanto ao nível de pormenor no argumento. Este foi sem dúvida um dos grandes trunfos da Capcom numa época em que se começava a poder explorar mais esta vertente neste tipo de jogos. Resident Evil apesar de não ter sido totalmente inovador dentro do género Survival Horror (o jogo Alone In The Dark acabou por ser mais importante nessa perspectiva) foi provavelmente o mais importante lançando uma série de jogos excelentes dando até, origem a um filme.
Gráficos: Pois bem, 1996 está bastante distante, mas
é fácil perceber que por esta altura o 3D ainda
era algo meio cru ainda em fase experimentação em alguns jogos. Mas a Capcom pelos
vistos já havia adquirido bastante experiência pois os gráficos estão mesmo
muito bons. Bons ao ponto de jogá-los e não ter achado o jogo completamente
ultrapassado. Achei sinceramente que o jogo envelheceu muito bem. As animações
são fluídas (apesar de pouco regulares), notam-se as formas
poligonais das personagens mas apesar disso achei-as bem trabalhadas e
disfarçadas, os cenários pré-renderizados estão bastante detalhados e com
um artwork muito bom para a época. Toda a estrutura que é o
local onde jogamos está bastante realista ambiente fictício em que
existem zombies e monstros que matam outras
pessoas, fazendo-nos ponderar se tudo isto não seria um
cenário possível. O único senão está relacionado com as cutscenes.
As in-game estão um pouco descoordenadas entre
o voice-acting e as animações. Não gostei da utilização de
actores na introdução e final, pois acho que não combina com videojogos (e
rapidamente me faz lembrar outro tipo de experiências como as do CD-I da Phillips).
Jogabilidade: Nesta fase os controlos mais comuns nos
jogos 3D eram os designados Tank Controls por
estes se comportarem como um tanque na sua movimentação rotativa. Inicialmente
isto não causa problemas até aparecerem os dobermans e
os hunters que são ágeis e rapidamente mudam de
posicionamento. Muitas vezes morri por estes mudarem constantemente de posição
enquanto tinha de virar a personagem lentamente 180º para conseguir disparar
sobre eles. Mas não é grave demais pois podemos sempre fugir, visto este também
ser um dos objectivos do género (Survival Horror).
O Survival Horror é
caracterizado por jogos de terror onde o personagem tem poucas armas ou
munições capazes de derrubar facilmente um inimigo, levando
ao jogador ter que fazer uma gestão inteligente do seu arsenal. Não existe
muito espaço para erros, e os tiros ao lado podem significar a morte, portanto
sempre que possível o melhor é passar ao lado do confronto. Resident
Evil faz sem dúvida jus ao nome do género e criou inúmeras situações
em que colocar o jogador a agir cautelosamente, mas também
é caracterizado pelo constante backtracking e puzzles de
lógica no percurso do jogo. Por vezes é normal ficarmos “presos” no avanço
do jogo obrigando o jogador a rever os próprios passos e a procurar por pontas
soltas. Aqui o cenário é relevante a ponto de fornecer pistas sobre uma
passagem secreta ou uma gaveta com uma chave portanto é portanto é importante
que se explore tudo que houver para explorar em cada divisão.
Som: Se
existe alguma coisa de “revolucionário” neste jogo a apontar diria talvez a
atmosfera que foi criada neste jogo. Resident Evil é um jogo
de momentos e estes são amplificados com uma banda sonora muito bem pensada
afim de dar ao jogador a experiência de terror. Estes tipo de iniciativas não
são novas (por exemplo Another World da Amiga, ou
o Doom, e até mesmo o já referenciado Alone In The Dark),
mas acho que Resident Evil aproveitou da melhor forma a
capacidade de reprodução audio que a nova geração de consolas 32bits oferecia.
Os passos ecoados, em conjunto com um silêncio aterrador ao entrarmos em
algumas salas, ou simplesmente os sons da noite escura causam arrepios
constantes. Em alguns momentos em que saltamos literalmente do sofá ou nos
assustamos com o barulho de qualquer coisa na cozinha (o jogo não provoca sons
na nossa casa, mas ficamos tensos e assustadiços ao jogar RE).
Penso que nenhum jogo foi tão longe em provocar estes tipo de sentimentos
no jogador.
O voice acting tem alguns
maus momentos onde os actores não mostram emoção nenhuma na representação do
texto (percebe-se perfeitamente que estão a ler a um texto e não
a interpretá-lo. Dou algum desconto pela idade do jogo e por nesta altura este
tipo de iniciativas nos videojogos ainda ser uma coisa nova. Efectivamente foi
algo que trouxe alguma dimensão ao jogo..
Longevidade: Resident Evil passa-se numa mansão
nos arredores de Racoon City, e o objectivo é (além de sobreviver)
encontrar uma saída. O sistema de níveis que habituou os jogadores
dos anos 80 e inícios de 90 sofre uma alteração em Resident
Evil passando este a separar-se por áreas que podem ser revisitadas a
qualquer altura do jogo. Ao desenrolar do jogos somos vedados a
muitos caminhos da mansão e é necessário encontrar várias chaves ou outros
itens para conseguirmos acesso por esses caminhos. Isto foi relativamente novo
na época em que RE saiu (estamos a falar de 1996 não se
esqueçam) e apesar de não ter sido o primeiro a usar este sistema acredito que
foi um dos jogos que mais impulsionou este método. O problema
dos loadings que era considerada uma barreira
problemática para este género de level design foi
inteligentemente ultrapassada com simples animações que foram umas das muitas
imagens de marca de RE. As portas a abrir, o elevador a mover-se, o
subir/descer escadas, são algumas das animações utilizadas para ocultar o loading do
cenário seguinte e ao mesmo tempo, da forma com que estava feito (com o eco dos
passos no silêncio e o ranger das portas) aumentava mais ainda o ambiente
arrepiante de Resident Evil. De forma que do inicio ao fim nem
sequer é sentido nenhum tipo de aborrecimento ou falta de paciência com os
sucessivos loadings (Em Tomb Raider por
exemplo os loadings sempre foram alvo de criticas por
estragarem de certa forma a fluidez do jogo e a paciência dos jogadores).
RE não
é um jogo muito extenso. Poderá ser relativamente longo numa primeira vez mas
numa segunda tentativa provavelmente será mais fácil e rápido chegar ao final
do jogo. Na minha primeira vez demorei cerca de 15h (Eh valente!!!
Aguentas-te bem!!) e na segunda vez com a Jill consegui
chegar ao fim em 5h (Eish!! Coitada da moça!!). Existem duas personagens
jogáveis e vários finais alternativos que são accionados em determinadas fases
do jogo em base de decisões que tomamos. Além disso existem alguns secrets que
poderão ser um incentivo para rejogar várias vezes. Existem também
algumas diferenças curiosas entre as personagens. Enquanto Chris
Redfield é mais resistente aos ataques dos monstros ao mesmo
tempo não tem tanto arsenal disponível, nem armas tão poderosas além de ter
outra desvantagem chata – tem apenas seis slots de espaço no
inventário. Jill Valentine já tem muito mais poder de fogo e a
disponibilidade de ter oito slots de espaço. Mas em
contrapartida é bem menos resistente a ataques o que justifica a ocupação do
espaço em excesso com mais itens medicinais senão é morte pela certa. É
também possível gravarmos o processo do jogo numa antiga máquina
de escrever à mão, que normalmente se encontram nas save rooms, mas
só é possível gravarmos o jogo com um item específico
(a tinta para a máquina). Até neste processo o conceito survival
horror é levado à prática, sendo delimitado (quase raro) o número de
cápsulas de tinta e estarem bem escondidos no jogo sendo um bem tão precioso
para o jogador quanto uma munição de magnum.
Este foi o Resident Evil que me faltava jogar na PSX aparte dos Survivals. Muito sinceramente acho este o título da série menos bom, e as suas sequelas mostraram vir a ser superiores, o que acho bastante positivo e fortalece mais ainda a solidez do nome Resident Evil. Gostei muito de jogar este Resident Evil e trouxe-me bastantes boas recordações dos meados dos anos 90 em que na minha opinião os videojogos estavam a atravessar uma das melhores fases com jogos espectaculares. Resident Evil faz parte desse leque de jogos juntamente com exemplos como Super Mario 64, Tomb Raider, Chrono Trigger, Quake, Diablo, ou Crash Bandicoot…
Gráficos: 8.5 (Gráficos realistas com cenários
pré-renderizados bem detalhados. As animações podiam estar um pouco melhores,
mas… estamos em 1996 há que dar um certo desconto.)
Jogabilidade: 8.0 (Inteligente utilização do menu, e boa
abordagem do género no gameplay. O tank controls por
vezes não funcionam muito bem)
Som: 8.5
(Um dos pontos fortes do jogo. É essencial na criação da atmosfera
tão característica de Resident Evil. Efeitos sonoros
muito fixe. Peca apenas pelo voice acting datado)
Longevidade: 8.3 (Nem muito curto nem muito longo. Trás
razões suficientes para voltarmos a jogá-lo logo a seguir a termos acabado. Mas
assim que nos fartar-mos ficará uns bons anitos na prateleira… até ao dia em
que voltamos a fazer o mesmo durante uma semana!)
Nota Final: 8.2 (Resident Evil é um jogo
excelente, e provavelmente terá sido um dos melhores até ter saído a sua
sequela. Ainda foi lançada uma versão Director’s Cut, com mais
armamento e uns extras para fazer a delicia dos fãs. É um
jogo difícil de início, principalmente se não estamos habituados ao
género, mas rapidamente percebemos o objectivo, e vai-se tornando mais
fácil a cada vez que o jogamos.)
Estava a pensar jogar ao remake que fizeram do jogo que tem um aspecto fantástico mas claro, a Capcom não se digna a lançar isto no Steam (isto e o Okami, grrr). Estou a ver que a minha unica hipótese é tentar a minha sorte com um emulador da GC.
ReplyDelete...e dai, o voice acting do original é especialmente estúpido e eu sou um grande fã de coisas estúpidas :P por isso quem sabe.
O único RE que eu joguei a sério back in the day, foi o Code Veronica para a Dreamcast. Ainda tenho pesadelos com o Tyrant. E as minhocas. Credo, as minhocas.
Agora com licença que vou fazer uma Jill Sandwich...